terça-feira, 23 de outubro de 2012

Misericórdia e apoio às mulheres que sofreram aborto

Fonte: Portal da Arquidiocese

“Então se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias: Ouviu-se um clamor em Ramá, choro e grande lamento; Era Raquel chorando a seus filhos, e não querendo ser consolada, porque eles já não existem.” (Mt 2: 16-17) Raquel, que também aparece no livro do Gênesis como ‘A mãe das doze tribos’, perde os seus filhos e só consegue se reconciliar consigo mesma quando Deus vem ao seu encontro mostrando a misericórdia, que só o Senhor é capaz de ter. Assim como Raquel, muitas outras mulheres convivem com a angústia e a tristeza da perda de um filho. E às vezes a perda dessa criança é caracterizada pelo aborto procurado. Nestes casos, como ajudá-las a preencher o vazio representado pela ausência do filho abortado? Como fazer com que essas mulheres enxergem a Misericórdia Divina? Para elas, o Projeto Raquel tem a resposta e a resposta é: “vocês não estão sozinhas.” No último sábado, 20 de outubro, membros de movimentos pró-vida se reuniram no auditório do Edificio João Paulo II para uma apresentação do Projeto Raquel, que está prestes a ser implementado no Rio de Janeiro, com o objetivo de capacitar pessoas para a atuação na cidade.

Com foco em mulheres que sofrem após algum tipo de aborto, o Projeto Raquel caracteriza-se como um serviço pastoral pós-aborto, que nasceu nos Estados Unidos em 1984 e que se espalhou rapidamente pelas dioceses de vários países. A iniciativa é uma rede de cura, baseada na misericórdia de Deus, que oferece a essas mulheres todo o apoio espiritual e psicológico necessário para cada caso. Afim de partilhar as experiências desta rede, a diretora espiritual do Projeto Raquel em Boston (NY), Isaura Cunha, foi convidada para palestrar no encontro deste sábado. Ela esclareceu que o trabalho deve fer feito a nivel diocesano, com autorização do Bispo responsável, integrando sacerdotes e psicólogos:

— Este é um processo de cura interior, integrado a nivel espiritual e psicológico. É um trabalho de cura interior facilitado através do sacramento da reconciliação e de uma ajuda piscológica. Portanto, o campo da psicologia é muito importante, porque estamos tratando de pessoas extremamente vulneráveis e, por isso, precisamos de profissionais nessa área para ajudar no trabalho e facilitar esta cura, afirmou. 

Segundo Isaura, somente nos Estados Unidos, onde o aborto já é legalizado, a taxa de mulheres que procuram por estes métodos é de 1,2 milhões por ano. Desde a legalização, no ano de 1973, os números chegam a  53 milhões de bebês mortos no ventre materno. No Brasil, uma pesquisa realizada pela Universidade de Brasilia (UnB), no ano de 2010, revelou que uma em cada sete brasileiras entre 18 e 39 anos já abortou.

Para a maioria das mulheres, as consequências do aborto não se relacionam com patologia física, mas com angústia e culpa. Algumas chegam a recorrer ao alcool e às drogas, outras sofrem com a depressão, mas os sintomas, muitas vezes, não acontecem de imediato, e sim com o passar do tempo. A representante da Comissão Arquidiocesana de Promoção e Defesa da Vida, Movimento Brasil Sem Aborto no Rio de Janeiro, Maria José da Silva, esclareceu que o projeto atende não necessariamente mulheres católicas confessionais. Segundo ela, iluminados pelo Ano da Fé, o Projeto Raquel é uma oportunidade de expressar a crença na misericórdia de Deus para a superação destas mulheres que já abortaram:

— A nossa preocupação é ter um elemento, uma base, algo concreto de acolhimento dessas mulheres, não necessariamente apenas católicas confessionais. (...) Hoje tivemos um grupo grande de leigos, seminaristas e sacerdotes participando conosco. Empenhados nesse ano da fé, essa é a oportunidade de expressarmos a nossa fé e acreditarmos na misericórdia de Deus; e a nossa formação, hoje, foi para isso: para que o projeto seja implementado na Arquidiocese do Rio de Janeiro. (...)

A proposta do Projeto Raquel é confidencial, onde é possível trabalhar a caridade através da sabedoria de Deus. Maria José ressaltou a importância de poder dizer a essas mulheres que é possível ter esperança e alcançar a cura através da entrega a Deus:

— A proposta desse projeto é individual, é confidencial. E a gente quer, com muita caridade, com muita sabedoria de Deus, acolher essas mulheres e dizer a elas: “vocês não estão sozinhas, nós podemos ajudar”. Então, eu vejo que a promoção da pessoa humana, nesse sentido, está em falar o valor que ela tem. E essas mulheres têm valor. Não há pecado que Deus não possa perdoar, e a questão do aborto é algo que fere o coração de Deus, ceifa a vida de um ser inocente. Esta prática faz com que a mulher se sinta em vazio existencial. (...) É muito doloroso, muito cruel e ela fica sem direção. Quando vemos que a nossa Igreja Católica Apostólica Romana tem toda essa sabedoria em aceitar e atender a esse Projeto, eu posso dizer que isso é como uma seiva, que vai permitir trazer essas mulheres com o coração machucado e mostrar a elas que reconhecemos o pecado, mas que, uma vez que esse pecado é confessado, é possível seguir uma nova vida em Cristo Jesus, explicou.

Incentivador do projeto no Rio de Janeiro, o Bispo Auxiliar e presidente da Comissão Arquidiocesana de Promoção e Defesa da Vida, Dom Antonio Augusto Dias Duarte, lembrou o sofrimento que um aborto, ainda que espontâneo, pode trazer à mulher e destacou a preocupação em oferecer um apoio a essas pessoas fazendo-as despertar para a misericórdia do Pai:

— Esta participação das mulheres na morte dos filhos que levam dentro do seu corpo, através do aborto, faz com que elas chorem como Raquel. Ou seja, que elas sofram as conseqüências do aborto. Se até o aborto espontâneo traz um sofrimento à mulher, devemos considerar também o que é gravíssimo para a mulher, que é o aborto procurado. Esta mulher precisa de ajuda, afirmou Dom Antonio. 

Dom Antonio recordou o beato João Paulo II em sua Encíclica Evangelho da Vida, na qual o então Papa fala sobre as mulheres que sofreram aborto:

— O Papa João Paulo II, na Encíclica Evangelho da Vida, mostrava toda a misericórdia da Igreja, e o sinal da misericórdia de Deus, ao falar que estas mulheres são menos culpadas que os homens, menos culpadas que a sociedade — que não dá as condições para que elas sejam, de fato, mães—, menos culpadas que os legisladores — que procuram servir não ao povo, mas usam do povo para introduzir uma cultura de morte. Então, o Papa coloca essas mulheres tendo essa devida posição em termos de culpa, mas lembrando que qualquer culpa não deve ser simplesmente sentida. Essa culpa deve ser perdoada, deve ser aliviada e, por isso, existe o projeto Raquel, esclareceu.

Além da Arquidiocese do Rio de Janeiro, o Projeto Raquel também será implementado nas Arquidioceses de Brasília, Salvador e São Paulo.

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